segunda-feira, 18 de fevereiro de 2019

Escravos de um ecrã


Desistiu de Medicina por causa dos videojogos

“Rafael” tem 28 anos e desistiu do curso de Medicina quando os videojogos se tornaram uma dependência. Prefere ocultar o nome verdadeiro para preservar a família. Começou a jogar aos dez anos, quando era ainda o futebol dos jogos FIFA e PES que o fascinava. Saiu de internamento em outubro do ano passado, depois de ter falhado um plano de terapias para deixar de utilizar os videojogos como uma droga. “O vício dos videojogos é uma doença real, que não pode ser tratada com medicamentos. Agarra como outra substância”, começa por explicar.


[...]  “Começou a tornar-se um problema quando entrei na faculdade. Já não tinha a obrigação de ter notas para entrar e tinha mais tempo livre. Faltava às aulas. Acordava às 3 horas da tarde e ficava sempre a jogar. Às vezes, mais de 18 horas por dia. Comia enquanto estava no intervalo de um jogo e era sempre assim. Jogava League of Legends e Counter-Strike. Refugiava-me no jogo por ter perdido a motivação com os estudos. Entrava no mundo virtual e não tinha de pensar mais".
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No caso de “Rafael” a espiral de desestruturação foi vertiginosa. Reprovou na faculdade. Escondia-se em casa dos amigos para os pais não saberem que tinha voltado a ligar o monitor. “O jogo dava-me pica e adrenalina. Com a quantidade de horas que jogava tinha bons resultados e essa é uma sensação que engana o jogador. Poucos chegam ao topo. Eu jogava milhares de horas”. As discussões familiares tornaram-se uma constante. “Rafael” falhava as idas ao cinema e estava ausente de muitos jantares de amigos. Isolado, a jogar.  “Até no telemóvel se jogava qualquer coisa”. Os pais optaram pelo internamento numa comunidade terapêutica.
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Em Lisboa, no Hospital Santa Maria, existe desde 2014 o Núcleo de Utilização Problemática de Internet (NUPI), tido como o único estabelecimento especializado no problema dos videojogos no Serviço Nacional de Saúde (SNS).

[...]“O  jogador não é só uma pessoa com dinheiro. Os gamers podem ser miúdos de classe alta como podem vir de um bairro social. Basta terem um telemóvel. Já não estamos a falar do jogador de casino que tinha algum dinheiro para gastar”, relata Alexandre Inverno, diretor da clínica (clínica Linha d’Água, no Bombarral), que acrescenta que as pessoas carenciadas não estão a ser tratadas.

in https://www.jn.pt/nacional/reportagens/interior/agarrados-ao-ecra--deixou-medicina-para-jogar-videojogos-9099220.html

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