Há 500 anos, a 31 de outubro de 1517, o monge Martinho Lutero afixou na porta da igreja do castelo de Vitemberga, na Alemanha, 95 teses que deram início à reforma protestante, um cisma da Igreja Católica que mudou a Europa. E, conta-nos o livro “A grande rutura - Olhares cruzados sobre Lutero e a Reforma protestante”, coordenado pelo teólogo Porfírio Pinto e editado recentemente pela editora Paulinas, a ideia era convocar uma disputa académica que nunca aconteceu.
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As 95 teses de Lutero deram origem a um movimento de rutura, que levou à criação de uma nova religião cristã, o Luteranismo, identificado como um movimento protestante em relação ao catolicismo. Para o conter, a Igreja Católica promoveu um movimento de contrarreforma, sendo o Concílio de Trento (1545-1563) o mais marcante, com a criação de regras para a igreja romana.
A rutura originou confrontos sangrentos entre cristãos, motivou guerras de religiões em diversas regiões europeias, designadamente nos Principados Germânicos, em França e na Inglaterra, e abriu caminho para o surgimento de diversas vertentes do Cristianismo.
Lutero foi determinante para estimular educação no norte e centro da Europa
A reforma Protestante desencadeada por Lutero, em 1517, mudou a história da religião cristã, mas os investigadores destacam ainda o seu impacto na educação, particularmente nos países do centro e norte da Europa, que apostaram na alfabetização da população.
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Lutero, explica José Brissos Lino, teve um efeito cultural e linguístico na identidade alemã e impulsionou a leitura provocando um grande desenvolvimento na educação, estimulando a criação de escolas. Foi um construtor da modernidade e deu a oportunidade a cada cidadão de se aproximar de forma pessoal aos textos sagrados.
"Levou as pessoas a centrarem em sim a relação com Deus, sem intermediários. Mudou o paradigma. Cada pessoa de fé passou a ser sacerdote de si própria", disse, adiantando que, na sequência da reforma, desenvolveu-se o conceito da igreja reformada sempre em reforma, sempre em análise.
Quinhentos anos depois, o mundo assinala o "protesto" de Lutero
O papa Francisco, defensor da unidade dos cristãos, participou em outubro de 2016, em Lund, na Suécia, no 500.º aniversário da Reforma de Martinho Lutero, de mãos dadas com os protestantes.
A deslocação do papa suscitou o entusiasmo dos teólogos católicos e luteranos. Para o pastor luterano Theodor Dieter, consultor principal dos trabalhos comuns, a participação de Francisco é "simplesmente sensacional".
"É preciso não esquecer que Lutero descreveu o papa como o anticristo e fez severas críticas sobre a Igreja católica romana", lembrou este dirigente do Instituto de pesquisa ecuménica de Estrasburgo ("think tank" dos luteranos).
Os tempos modernos acrescentaram também obstáculos. Nas celebrações na Suécia, o papa esteve rodeado de bispas luteranas, uma evolução do protestantismo ainda impensável na Igreja católica.»

in http://24.sapo.pt- 28 out 2017 11:40