"Residente no Lar São Francisco, em Leiria, Maria Emília Santos, de 69 anos, viveu 22 de uma paralisia que ninguém parecia capaz de curar. A sua recuperação está na base da anunciada beatificação dos pastorinhos da Cova da Iria, a quem sempre dedicou profunda devoção. Para o reconhecimento formal do milagre, a sexagenária teve de passar cinco dias em Roma, no início deste ano. "Iam-me lá tirando a pele com tantos exames", confessa, enquanto se reconhece demasiado humilde perante o significado da beatificação.
Maria Emília Santos tinha 16 anos - e trabalhava havia cinco em Lisboa, onde "estava a servir na casa da patroa" - quando começou a sentir os primeiros problemas nas pernas que a levariam a uma paralisia de 22 anos.
" O regresso a casa foi apenas o início do drama humano que se atravessou na vida de Maria Emília Santos, a viver há já alguns anos no Lar de São Francisco, em Leiria, após oito de internamento no hospital da cidade.
"Depois de voltar a casa, em 1947, fui internada no hospital leiriense, tendo a seguir sido transportada para o Sanatório do Outão, onde confirmaram os diagnósticos anteriores. Fui operada, mas a partir daí fiquei pior e tive de começar a andar agarrada a uma canadiana". "Na cidade dos doutores voltaram a operar-me, mas fiquei num péssimo estado. As minhas mãos ficaram 'apanhadas', mas o pior foi da cintura para baixo, parte do corpo que deixei de sentir", recorda. Seguiu-se o centro de recuperação de Alcoitão, Sintra, para reanimação das mãos, cada vez mais afectadas. (...)
"No lar, a vida espiritual de Maria Emília Santos ganhou intensidade e a visita a Fátima, estimulada por um padre, foi um momento que ainda recorda."No dia 25 de Março de 1987, cerca das onze e meia da noite, no fim da novena que habitualmente fazia à Jacinta, disse para comigo: 'Jacintinha, ainda não te lembraste de mim.' Logo a seguir comecei a sentir um formigueiro, que ocorreu três vezes. Tive medo e fiquei a chorar", confessa a ex-paraplégica, que começou "a sentir os pés" e a ouvir uma voz de criança a dizer três vezes: "Senta-te, que tu podes." Sentou-se então na cama. "Até eu fiquei espantada. E fiquei cheia de medo. (...) Um novo "momento mágico" surgiu quando, 23 meses depois, pediu "à Jacintinha" para a "pôr a andar", para evitar "dar trabalho aos mais próximos, já que depois de começar a andar na cadeira de rodas ainda dava mais trabalho do que quando estava deitada". Num momento, recorda, "os pés puseram-se direitos e fiquei de pé, tendo deixado toda a gente surpreendida".
Foram estes dois "momentos mágicos" que a Comissão dos Cardeais da Congregação para a Causa dos Santos, do Vaticano, quis avaliar, com vista a uma eventual beatificação de Jacinta e de Francisco Marto, os dois pastorinhos de Fátima a quem Maria Emília Santos dedica grande fervor religioso.
"Fui no dia 5 de Janeiro deste ano para Roma, e iam-me lá tirando a pele com tantos exames que me fizeram", comenta. "Se soubesse, não tinha ido. Foram dois dias seguidos de exames, das oito da manhã às oito e meia da noite - até se esqueceram de que eu também comia." Cinco dias depois, regressou a Leiria e, três semanas mais tarde, os cinco médicos que a examinaram concluíram que "era milagre" e que "já não tinha ponta de doença".
in https://www.publico.pt/destaque/jornal/iamme-tirando-a-pele-com-tantos-exames-135467
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